Brasília, 20 jul (EFE).- O papa Francisco começa nesta segunda-feira suas viagens a outros países na condição de pontífice pelo Brasil, país com maior número de católicos do mundo, mas no qual sua Igreja perde terreno frente para os evangélicos, que além de fiéis conquistaram peso político.

Segundo o último censo, realizado em 2010, o Brasil é um “mercado” religioso com cerca de 190,7 milhões de pessoas, no qual desde 2000 avançam sem cessar os cultos evangélicos, que na primeira década do século XXI aumentaram seu número de fiéis em mais de 61%.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 havia 123,3 milhões de brasileiros que se declaravam católicos, o que representa 1,3% a menos que em 2000, embora ainda representem 64,6% da população.

Pelo contrário, o número de fiéis das igrejas evangélicas passou de 26,2 milhões em 2000 para 42,3 milhões em 2010, com um forte crescimento que levou esse grupo a representar atualmente 22,2% da população.

“Talvez tenhamos nos conformado e dormido um pouco, mas pode ser que este avanço ‘neopentecostal’ sirva para reagirmos e despertarmos para nossa verdadeira missão”, declarou em recente entrevista o arcebispo de Aparecida, Raymundo Damasceno Assis.

O fenômeno evangélico que o papa argentino encontrará em sua primeira viagem internacional não só se expressa nos templos, mas também no âmbito do poder político brasileiro, no qual há uma crescente influência das igrejas pentecostais.

Na Câmara dos Deputados existe há dez anos a chamada Frente Parlamentar Evangélica, grupo suprapartidário criado por fiéis dessa religião, que hoje conta com 77 dos 513 membros da Casa e não tem comparação entre os católicos.

Nas últimas eleições presidenciais, a força política das igrejas evangélicas também se expressou em votos. Em 2002, o presbiteriano Anthony Garotinho ocupou o terceiro lugar, com pouco mais de 15 milhões de votos, que representaram quase 18% do eleitorado.

Nas eleições de 2006 não houve um candidato claramente evangélico, mas sim em 2010, nos quais essa fé se identificou com a ecologista Marina Silva, que ficou também em terceiro lugar, ao superar os 19 milhões de votos (mais de 19% do total).

Segundo uma recente pesquisa, Marina tem hoje intenções de voto de 23% e representa o maior perigo para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, cuja popularidade caiu de 51% para 30% como consequência dos protestos maciços de junho passado.

No entanto, a principal figura evangélica da política no país é hoje o deputado e pastor Marcos Feliciano, que em março foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara em meio a polêmicas que ainda têm grande repercussão.

O legislador, de 40 anos e qualificado como “fundamentalista” até por muitos evangélicos, suscitou a ira de movimentos sociais por opiniões consideradas homofóbicas e racistas.

Segundo Feliciano, que diz defender suas ideias na “interpretação” da Bíblia, “o amor entre pessoas do mesmo sexo conduz ao ódio e ao crime”, e os africanos e seus descendentes são vítimas de uma “maldição” que vem dos tempos de Noé.

Feliciano é presidente e pastor da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, igreja vinculada à Assembleia de Deus, que tem no Brasil quase 20 milhões de fiéis.

Suas posições controvertidas contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o aborto reforçaram sua popularidade entre os evangélicos, mas também destacaram as coincidências que esse culto tem com a religião católica.

O próprio papa Francisco, apesar de ser considerado um “renovador” dentro da Igreja Católica, também não aceita o casamento entre homossexuais e a interrupção da gravidez, sobre a qual disse que atenta contra o “caráter sagrado da vida”.

A convergência entre católicos e evangélicos ficou muito clara no começo de junho passado, quando um ato ecumênico reuniu em Brasília cerca de 50 mil pessoas a favor da “família tradicional”, que propõem e defendem tanto o papa Francisco como o deputado Feliciano. EFE

Por Eduardo Davis.

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